Começou de repente, foi no dia 09 de janeiro desse ano, após comer uma suculenta e deliciosa picanha mal passada. Tínhamos ido a Joinville ver o filme “As aventuras de Pi” que traz alguns personagens vegetarianos (aliás, o filme é realmente muito bom, com imagens incríveis e o melhor 3D que já vi). Saímos do cinema, jantamos a tal picanha e pegamos a estrada de volta. Sempre discutimos muito sobre as coisas que vivenciamos e naquela noite começamos a conversar sobre o assunto de forma mais aprofundada. Levantamos questões como: Precisamos mesmo comer carne? Afinal, os animais teriam sentimento, memória, raciocínio? Chegamos a algumas conclusões, que na verdade não são necessariamente o correto, mas é o que nós pensamos a respeito do assunto.
Primeiro, existe uma cadeia alimentar, os leões não são “malvados” por comerem zebras, apenas seguem seu instinto e respeitam o ciclo natural das coisas, é a forma do meio ambiente girar. Os seres humanos são animais assim como todos os outros. A diferença? O raciocínio, a mente mais evoluída, a habilidade de construir coisas mais elaboradas, distinguir o bem e o mal, criar leis e regras, etc. Ou seja, nós temos um domínio maior sobre o instinto, portanto se outro animal da nossa espécie ameaça nosso território (uma competição no trabalho, por exemplo) nós não o matamos, usamos de outros meios através de nossa capacidade de raciocínio, para vencê-lo (salvo exceções, claro). Sim, nós somos animais muito frágeis, não possuímos garras, presas afiadas, cascos ou chifres, portanto, nossa inteligência é o que nos mantém em meio a esse reino cheio de animais superiores em força e resistência.
Mas onde quero chegar com toda essa história? Bom, este foi o debate que tivemos naquela noite, pensamos que, se o ser humano é superior em distinguir todas essas coisas, ele também pode ser o único a ter a noção dos sentimentos dos outros animais e o único a ter escolha sobre sua dieta. Da forma que pensamos, o que nos difere dos demais animais é apenas a proporção desse balanço entre instinto e raciocínio. Um cachorro, por exemplo, animal de estimação de muitos, é capaz de estabelecer uma relação de afeto, ter inteligência, em níveis muito inferiores aos nossos. Mas não há como negar que de fato ele desenvolve isso. E o que difere o cachorro do gado que nos fornece a picanha citada acima? Simplesmente a proporção novamente, o gado também desenvolve tudo isso, mas (creio eu) em proporções ainda menores. E assim podemos passar por todos os animais, macacos, porcos, pássaros, peixes, leões, zebras e todos os outros.
Então, por conta dessa nossa “capacidade intelectual” maior, dessa inteligência e capacidade de buscar alimento em diversas fontes, nós podemos escolher ser vegetarianos. Não é uma questão de certo e errado, não é uma questão de ser bom ou ruim, apenas uma questão de escolha, então chegamos à conclusão de que se podemos escolher matar ou não um animal, escolheríamos não matar. É simples, um animal na selva não pode cultivar uma horta, não pode fazer compras no supermercado, o raciocínio dele não chega a este nível e comer carne implica na sua sobrevivência e também no ciclo natural das coisas. Para o homem existe essa escolha, ou seja, não vamos definhar se não comermos carne (mais uma vez, salvo exceções), nesse caso, chegamos a mais um ponto: para os outros animais, comer carne tem uma justificativa plausível, sua sobrevivência. A partir do momento que tivermos uma justificativa para matar um animal, por exemplo, uma cobra que está me atacando ou se eu estiver em um ambiente onde essa é a única alternativa de alimento, eu tenho uma justificativa, um motivo, não é somente para meu prazer, não é apenas para agradar meu paladar. O que quero dizer com isso é que não somos radicais, eu mataria sim um animal, eu comeria sim, sem culpa ou ressentimento, se isso fosse necessário.
De fato, uma dieta onívora é mais fácil de se manter, a carne nos vem de formas tão práticas e apetitosas que escolher entre as outras opções sem ela é difícil sim, principalmente no começo. Mas mais difícil ainda é fazer uma reeducação alimentar, não apenas excluir a carne, mas sim, achar os complementos certos que vão suprir a falta dos nutrientes que a carne nos fornece. Não é o fim do mundo, claro, apenas um pouco de dedicação e força de vontade.
Não concordo com os vegetarianos que assumem uma posição de superioridade, uma posição contrária a todos que comem carne, como se fossem monstros. Não concordo com vegetarianos que usam palavras como “entranhas, vísceras, matança, assassinato, etc” acho que esses termos pesados são puro sensacionalismo e vão totalmente contra o meu pensamento que nega o absolutismo e a evangelização em qualquer que seja o assunto. Prefiro tratar apenas como a minha escolha, mantendo o respeito a quem escolhe uma dieta onívora.