Cozinhe Lentamente em Fogo Brando

Dia desses eu li um termo até então novo pra mim, o “slow food”. Trata-se de um movimento que vai na direção contrária ao fast-food e a essa aceleração das refeições, buscando resgatar o prazer de preparar o alimento e degustá-lo.


Segundo o site da instituição no Brasil:

“O Slow Food é uma associação internacional sem fins lucrativos fundada em 1989 como resposta aos efeitos padronizantes do fast food; ao ritmo frenético da vida atual; ao desaparecimento das tradições culinárias regionais; ao decrescente interesse das pessoas na sua alimentação, na procedência e sabor dos alimentos e em como nossa escolha alimentar pode afetar o mundo.”

Fiquei muito feliz em saber que já existe toda uma filosofia acerca de algo que venho pensando há algum tempo. Desde que terminei a faculdade, passei a buscar um ritmo de vida mais desacelerado e isso se aplicou de forma muito consistente na minha alimentação (adicionei o vídeo que ilustra esse post nos meus favoritos exatamente quando iniciou esse período, há um ano).

Passei a adquirir gosto pela culinária, passei a preferir cozinhar com alimentos tirados da horta, fazer suco com fruta do pé. Aconselho todo mundo a experimentar um ritmo diferente no preparo da sua comida de vez em quando. Mexer o molho de tomates lentamente até que eles cozinhem bem ao invés de colocar molhos prontos, sentar e escolher uma receita, sentir a textura das farinhas, dos grãos, das frutas… E depois, é claro, dar ao seu paladar o prazer de apreciar tudo isso. Pequenos detalhes que tem dado um sabor diferente aos meus dias.

Para saber mais: http://www.slowfoodbrasil.com/

Morro da Igreja – Corupá

As redes sociais têm sido vistas como vilãs pelo seu uso de forma muito superficial, mas de vez em quando encontramos uma iniciativa ou outra que nos fazem voltar a ver o seu valor. Faz um tempo que foi criado um grupo no facebook para organizar passeios, trekkings, aventuras diversas em contato com a natureza. Foi pelo grupo que organizamos a subida às cachoeiras de Corupá e através dele também combinamos o passeio desse final de semana.

Ainda em Corupá (incrível como exploramos pouco as riquezas regionais!) optamos agora pela subida do Morro da Igreja.

Nove pessoas encararam o desafio e as 06:30h da manhã de sábado estávamos todos na praça de Jaraguá para iniciar o trajeto. Fomos até o pé do morro, onde deixamos os carros em uma propriedade particular que dá acesso à trilha, dali partimos a pé por volta das 08:00h.

O grupo iniciando a subida

O grupo iniciando a subida

A subida começa por uma pequena estrada mais aberta por mais de um quilômetro, depois a trilha segue pelo meio da mata, nesse caso a presença de alguém com experiência no caminho foi fundamental. O Glauco foi quem fez a frente e foi indicando o caminho.

O morro tem 870m de altitude, em mata fechada, com alguns trechos de “escalaminhada”. Mas foi tudo muito tranqüilo no sentido de que todos estavam animados, rindo (cobrando do Glauco os macacos que ele disse que veríamos!), parando de vez em quando para tomar água ou fôlego. O grau de dificuldade é um pouco maior, apesar de ele dizer o tempo todo que é o morro mais fácil da região! Calças compridas e confortáveis, botas ou tênis com o solado bem aderente e mochilas com água e alimentos leves são essenciais.

Obstáculos naturais pelo caminho

Obstáculos naturais pelo caminho

Chegamos ao cume uma hora e quarenta minutos depois, o tempo estava fechado, com muitas nuvens, mas abriu o suficiente para apreciarmos a paisagem. Descansamos um pouco, fizemos algumas fotos, comemos e depois iniciamos a descida.

Ponto alto da aventura!

Ponto alto da aventura!

Para descer os tombos foram inevitáveis! Os trechos escorregadios e mais inclinados pareciam mais traiçoeiros morro abaixo, porém os tombos não renderam nada mais que boas risadas.

O morro da igreja ao fundo

O morro da igreja ao fundo

Lá pelas 11:00h estávamos novamente ao pé do morro, olhando para cima e apreciando a vista de onde estávamos há pouco. Dali, parte do grupo seguiu para casa e nós fomos em 5 pessoas para o Recanto do Luli, onde acamparíamos. Mais um cume conquistado, mais vistas incríveis, mais experiências pra carregar na mochila.

Dieta Vegetariana

Começou de repente, foi no dia 09 de janeiro desse ano, após comer uma suculenta e deliciosa picanha mal passada. Tínhamos ido a Joinville ver o filme “As aventuras de Pi” que traz alguns personagens vegetarianos (aliás, o filme é realmente muito bom, com imagens incríveis e o melhor 3D que já vi). Saímos do cinema, jantamos a tal picanha e pegamos a estrada de volta. Sempre discutimos muito sobre as coisas que vivenciamos e naquela noite começamos a conversar sobre o assunto de forma mais aprofundada. Levantamos questões como: Precisamos mesmo comer carne? Afinal, os animais teriam sentimento, memória, raciocínio? Chegamos a algumas conclusões, que na verdade não são necessariamente o correto, mas é o que nós pensamos a respeito do assunto.

Primeiro, existe uma cadeia alimentar, os leões não são “malvados” por comerem zebras, apenas seguem seu instinto e respeitam o ciclo natural das coisas, é a forma do meio ambiente girar. Os seres humanos são animais assim como todos os outros. A diferença? O raciocínio, a mente mais evoluída, a habilidade de construir coisas mais elaboradas, distinguir o bem e o mal, criar leis e regras, etc. Ou seja, nós temos um domínio maior sobre o instinto, portanto se outro animal da nossa espécie ameaça nosso território (uma competição no trabalho, por exemplo) nós não o matamos, usamos de outros meios através de nossa capacidade de raciocínio, para vencê-lo (salvo exceções, claro). Sim, nós somos animais muito frágeis, não possuímos garras, presas afiadas, cascos ou chifres, portanto, nossa inteligência é o que nos mantém em meio a esse reino cheio de animais superiores em força e resistência.

Mas onde quero chegar com toda essa história? Bom, este foi o debate que tivemos naquela noite, pensamos que, se o ser humano é superior em distinguir todas essas coisas, ele também pode ser o único a ter a noção dos sentimentos dos outros animais e o único a ter escolha sobre sua dieta. Da forma que pensamos, o que nos difere dos demais animais é apenas a proporção desse balanço entre instinto e raciocínio. Um cachorro, por exemplo, animal de estimação de muitos, é capaz de estabelecer uma relação de afeto, ter inteligência, em níveis muito inferiores aos nossos. Mas não há como negar que de fato ele desenvolve isso. E o que difere o cachorro do gado que nos fornece a picanha citada acima? Simplesmente a proporção novamente, o gado também desenvolve tudo isso, mas (creio eu) em proporções ainda menores. E assim podemos passar por todos os animais, macacos, porcos, pássaros, peixes, leões, zebras e todos os outros.

Então, por conta dessa nossa “capacidade intelectual” maior, dessa inteligência e capacidade de buscar alimento em diversas fontes, nós podemos escolher ser vegetarianos. Não é uma questão de certo e errado, não é uma questão de ser bom ou ruim, apenas uma questão de escolha, então chegamos à conclusão de que se podemos escolher matar ou não um animal, escolheríamos não matar. É simples, um animal na selva não pode cultivar uma horta, não pode fazer compras no supermercado, o raciocínio dele não chega a este nível e comer carne implica na sua sobrevivência e também no ciclo natural das coisas. Para o homem existe essa escolha, ou seja, não vamos definhar se não comermos carne (mais uma vez, salvo exceções), nesse caso, chegamos a mais um ponto: para os outros animais, comer carne tem uma justificativa plausível, sua sobrevivência. A partir do momento que tivermos uma justificativa para matar um animal, por exemplo, uma cobra que está me atacando ou se eu estiver em um ambiente onde essa é a única alternativa de alimento, eu tenho uma justificativa, um motivo, não é somente para meu prazer, não é apenas para agradar meu paladar. O que quero dizer com isso é que não somos radicais, eu mataria sim um animal, eu comeria sim, sem culpa ou ressentimento, se isso fosse necessário.

De fato, uma dieta onívora é mais fácil de se manter, a carne nos vem de formas tão práticas e apetitosas que escolher entre as outras opções sem ela é difícil sim, principalmente no começo. Mas mais difícil ainda é fazer uma reeducação alimentar, não apenas excluir a carne, mas sim, achar os complementos certos que vão suprir a falta dos nutrientes que a carne nos fornece. Não é o fim do mundo, claro, apenas um pouco de dedicação e força de vontade.

Não concordo com os vegetarianos que assumem uma posição de superioridade, uma posição contrária a todos que comem carne, como se fossem monstros. Não concordo com vegetarianos que usam palavras como “entranhas, vísceras, matança, assassinato, etc” acho que esses termos pesados são puro sensacionalismo e vão totalmente contra o meu pensamento que nega o absolutismo e a evangelização em qualquer que seja o assunto. Prefiro tratar apenas como a minha escolha, mantendo o respeito a quem escolhe uma dieta onívora.

Rota das Cachoeiras

Foi decidido que seria no último final de semana de janeiro, independente do clima (a menos que chovesse demais, ameaçando a segurança do grupo) que caminharíamos rumo a uma de nossas primeiras aventuras. Então, as 08:00hs de um domingo nublado, meio chuviscando, partimos para a subida da Rota das Cachoeiras.

O lugar faz parte da Reserva Particular Natural Emílio Batisttella, situada em Corupá-SC e qualquer pessoa pode fazer a trilha a R$10,00.

Saímos de Jaraguá em 5 pessoas e na entrada da reserva encontramos o segundo grupo, de mais 4, que já nos esperava. Cumprimentos e apresentações realizados, iniciamos a subida de 2,9 quilômetros.

O grupo reunido na primeira cachoeira

Há duas maneiras de chegar ao ponto final da rota: pela trilha do Araçá que dá acesso diretamente à 14a cachoeira, ou pela trilha Passa-Águas, que passa por todas elas. Optamos pela segunda, pois queríamos aproveitar cada paisagem.

Como a primeira cachoeira é logo na entrada da trilha, já se inicia com um ânimo a mais. Cada uma delas tem sua particularidade e parece ter uma personalidade própria. Algumas são imponentes, quase ameaçadoras, outras parecem nos abraçar de tanta serenidade que passam, mas de uma forma ou de outra, são todas encantadoras!

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Eu tenho um sentimento muito especial por cachoeiras, elas me deixam pasma, boquiaberta com a grandiosidade da natureza, elas imperam poderosas em meio às rochas e sempre nos fazem tomar consciência de nós mesmos, consciência de como somos pequenos e frágeis e do quanto fazemos parte de tudo isso.

Lá pelas tantas da subida senti um cheiro muito agradável e que não me era estranho, parecia que o perfume combinava com o lugar, acalmava e tornava o ar mais fácil de respirar, porém não era um cheiro que eu esperava encontrar ali. Logo entendi! Um dos integrantes do grupo, o Jackson, estava carregando consigo um incenso aceso e a fumaça ia se espalhando pela trilha. Simplesmente adorei a ideia, tão simples e traz uma sensação tão boa! Nunca tinha pensado nisso, mas certamente usarei em outras caminhadas.

Fizemos a trilha bem de leve, sem pressa, parando para apreciar todos os detalhes, o clima estava úmido e nublado, portanto não sofremos muito com o calor. Todos foram bem preparados, com roupas e calçados adequados, além de mochilas com garrafinhas de água e pequenos lanches, parece óbvio, mas vimos muitas pessoas andando pela trilha de chinelo ou com roupas que pareciam desconfortáveis para o exercício.

Em parte da caminhada tivemos a companhia de um cachorro, que estava numa parte já bastante alta e parecia familiarizado com o caminho. Brincamos com ele, oferecemos comida e ele retribuiu com muitos pulos cheios de lama, especialmente na Fernanda, que ficou suja dos pés à cabeça!

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É natural sentir a realização de chegar ao final de um caminho, mas o que senti quando vi a última cachoeira é indescritível! Primeiro porque eu não sabia que eram 125 metros de queda e depois porque todo o lugar parece computação gráfica, as pedras gigantes cobertas de um musgo tão verde, quase fluorescente, a água que caía em lufadas e se transformava em grandes nuvens de fumaça, o topo da cachoeira invisível por conta das nuvens, que fazia parecer que a cachoeira não tinha fim (ou seria início?) e ainda as pequenas revoadas dos pássaros em formação atravessando a paisagem. Parece exagero, mas talvez eu nem devesse contar com tantos detalhes, a surpresa é ainda melhor.

Fomos até a lateral da cachoeira e chegamos o mais próximo possível, fiquei ainda um pouco longe, porém a água vinha como se eu estivesse debaixo de um chuveiro. Um pouco de medo foi natural, pois não havia espaço para passos em falso, mas a emoção de estar ali sentindo a água chegar com tanta vida me fez sentir realmente fazendo parte dela.

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Depois ficou frio, a roupa ficou encharcada e os pés nadavam dentro dos tênis. Por sorte eu e o Diego levamos casacos e foi assim que nos aquecemos para a volta.

Voltamos renovados, conversando sobre as últimas experiências e os planos futuros. Apesar de estarmos todos molhados, nos sentíamos infinitamente mais leves.